domingo, 18 de março de 2012

721 – MARIA DE LOURDES

Autor; Erivaldo Alencar.

Letra; 08 05 2007 e música; 13 03 2009.


Louvado seja Jesus
No alto do firmamento
Peço me iluminar
No uso do instrumento
Inspiração pra escrever
A verdade sem aumento.

Neste cordel vou narrar
Uma história verdadeira
Da vida duma mulher
Muito bonita e faceira
Conhecida pelo nome
Maria de Lourdes Pereira.

Em mil novecentos e trinta
Maria de Lourdes nasceu
Dia doze de setembro
Virgem é o signo seu
É de família humilde
Com simplicidade cresceu

Nasceu lá nos Currais Novos
Município Quixelô
É minha mãe biológica
Pro Capivara mudou
Nos sertões de Acopiara
Onde ela se criou.

Filha de Chico Janoca
E de dona Senhorinha
Da prole de oito irmãos
Cresceu e se fez mocinha
Pouca escolaridade
Mau lia uma cartinha.

Maria de Lourdes cedo
Foi pra roça trabalhar
Pra ajudar os seus pais
A seus irmãos a criar
E por ser a primogênita
Tinha da casa cuidar.

No ano quarenta e sete
Maria de Lourdes casou
Com o jovem Julio Aires
Um belo casal formou
Do único matrimônio
Doze filhos ela gerou.

Em quarenta e oito teve
O seu filhinho primeiro
O qual chamou Erivaldo
Este poeta brasileiro
Arlindo nasceu em cinqüenta
Dia dez de fevereiro.

Lucia em cinqüenta e um
Com nove meses morreu
Eunice em São Paulinho
Em cinqüenta e dois nasceu
Manoel em cinqüenta e quatro
No nascimento faleceu.

No ano cinqüenta e seis
A Edileuza nasceu
No ano cinqüenta e sete
Neviwton apareceu
Expedita em sessenta
Para vida floresceu.

Em sessenta e um a Rita
Em sessenta e três Aparecida
No ano sessenta e cinco
Fátima surgiu pra vida
E a caçula Corrinha
Veio logo em seguida.

No ano cinqüenta e dois
Meus pais tentaram ir embora
Venderam tudo que tinham
Mas antes de chegar à hora
Os filhos adoeceram
E desistiram sem demora.

Foram para São Paulinho
Uma bodega botaram
Venderam tudo fiado
Em poucos meses quebraram
E sem recurso algum
Para o sitio voltaram.

Foram pro Riacho Fundo
Em terras alheias morar
Meu pai foi pro alugado
De sol a sol trabalhar
Ela ficava em casa
Para seus filhos cuidar.

Lá para o Comboeiro
Com o marido voltou
Pra nossa propriedade
Única coisa que restou
Neste período de crise
Até fome ela passou.

Mamãe chegou lavar roupas
Pra poder ganhar dinheiro                                                                                                                                                                       Pra na despesa da casa
Ajudar o companheiro
Sentada na pedra quente
Passava o dia inteiro.

Muitas vezes eu a vi
Levantar de madrugada
Com a trouxa na cabeça
Saía pela estrada
Andava mais duma légua
Em jejum sem comer nada.

O dia todo no sol
Voltava a noite cansada
Com uma trouxa enorme
Cheia de roupa molhada
Com fome com enxaqueca
E com a pele queimada.

Papai trabalhava fora
Saía de madrugada
Mamãe prepara o lanche
Pra ele comer na jornada
Uma receita por dia
Por ela era preparada.

De farinha da mandioca
Mamãe preparava o pão
Pro bicho ficar macio
Pilava o pão no pilão
Meu pai levava num saco
Era sua refeição.

Com massa de milho fazia
O chamado pão molhado
Feito com água com sal
No pilão era pilado
Transformado em bolinhas
Que por nós era tragado.

Para matar nossa fome
Maria de Lourdes fazia
O capiau de farinha
Beleza de iguaria
E o pão doce de milho
Nosso pão de cada dia.

O capitão de feijão
Muitas vezes vi fazer
Com farinha ou pão de milho
Fazendo careta comer
Com a boca cheia d’água
Sem ele querer descer

Em tempo de crise braba
Sem esperança de futuro
Com a família comer
Pirão de maxixes maduro
Qualquer coisa é bem-vindo
Quando se entra em apuro.

Eu também a vi chorar
Na hora da refeição
Comer feijão sem mistura
Só com farinha ou pão
Gorgulhos mortos boiando
Sobre o caldo do feijão.

Maria de Lourdes Pereira
Foi à melhor mãe do mundo
Dedicada a seu marido
De sentimento profundo
Zelosa e caprichosa
Levava o amor a fundo.

Sempre cuidou bem dos filhos
Com amor e dedicação
Vivia com seu marido
Em perfeita união
Pra si tudo tava bem
Mulher de bom coração.

Lembro como fosse hoje
Quando ela aboiava
O seu aboio bonito
De longe se escutava
O mais perfeito vaqueiro                                                                                                                                                                            O seu aboio invejava.

Maria de Lourdes era
Mulher preconceituosa
Benzia-se quando falava
Em doença perigosa
Ave Maria três vezes
Ela dizia temerosa.

Meu pai era cantador
E em uma cantoria
Uma moça da cidade
Estava lá neste dia
Muita bonita quartuda
Exibia simpatia.

Usava roupa curtinha
Sentava sem tomar jeito
No ouvido do meu pai
Ditava mote perfeito
Para minha mãe aquilo
Estava tudo direito.

Mas um alguém muito mal
Chegou bem pra perto dela
Não ver que o teu marido
Está gostando daquela
Você não tiver cuidado
Vai perder ele pra ela.

A minha mãe pegou corda
Zangada foi pro salão
Disse um montão de coisas
Foi grande a confusão
A cantoria acabou
Antes da hora então.

E no caminho de casa
Brigavam sem se entender
O Zé Piaba coitado
Quis o meu pai defender
Ela disse tu és cego
E o cego nada ver.

Numa missa no Ebron
Com meu pai fui encontrar
Mamãe tava de resguardo
E não pode ir pra lá
Na volta a encontrei
Desconsolada a chorar.

Perguntei o ocorrido
Envergonhada falou
Foi à velha dona Ana
Um fuxico me contou
Teu pai tava namorando
Por  isso inda não voltou.

Eu lhe disse é mentira
Daquela velha safada
Eu estava lá com ele
E não aconteceu nada
Ela só quer separá-los
Não ouça esta malvada.

Meu pai mal chegou em casa
A confusão começava
O meu pai se defendendo
Ela não acreditava
Insultos de ambas partes
Quase que na mais parava.

Já morando na cidade
Maria adoeceu
Ela foi se receitar
O doutor não entendeu
Os remédios que passou
Bom resultado não deu.

Dizendo ser epatite
Muito remédio passou
Ela tomou todos eles
Mas seu mal não melhorou
A levamos pra Fortaleza
Depois que ela piorou.

Lá no Hospital Geral
Ela ficou internada
Os exames foram feitos
E a doença encontrada
Eram pedras na vesícula
Tinha que ser operada.

Para o Fernandes Távora
Ela já foi transferida
Na mesa operatória
Com fins salvar sua vida
E Julio acompanhava
Sua esposa querida.

A sua operação
Não pode ser consumada
Era câncer e não pedras
Ela foi desenganada
Meu pai a trouxe de volta
Pra morrer tranqüilizada.

Diz o médico pra ele
Nada se pode fazer
Só tem três meses de vida
Ela não pode saber
Foi muito difícil pra nós
Em não poder lhe dizer.

Mas quando chegou em casa
O seu pai adoeceu
No dia seguinte ele
De trombose faleceu
Foi difícil pra dizer
Que seu velho pai morreu.

No ano setenta e cinco
Ela fez sua partida
Foi em quinze de novembro
O dia da despedida
Foi na manhã de um sábado
Que ela perdeu a vida.

Assim ela nos deixou
Para nunca mais voltar
Estar ao lado de Deus
Lá dos céus a nos olhar
Mesmo que não a vejamos
Ela conosco estar.


Francisco Erivaldo Pereira Alencar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário