Autor: Erivaldo Alencar.
Letra: 30 07 2023 e música:
Hoje acordei muito cedo
E parei para pensar
Comecei analisar
E descrever meu enredo
Senti-me encorajado
Descrever o meu passado
Que me veio na lembrança
Direi verdades somente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Eu nasci no Comboeiro
Na terra do lavrador
Sou filho de cantador
Dos filhos sou o primeiro
Nascido em uma palhoça
Comigo não há quem possa
Em Deus tenho confiança
O levo em minha mente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Nasci numa quarta feira
As nove horas do dia
Minha mãe com alegria
Teve sua cria primeira
É claro que não me lembro
No dia três de novembro
Foi um dia de festança
O meu pai cantou contente
Está tudo diferente
De Quando eu era criança.
No ano quarenta e oito
As margens duma estrada
Naquela simples morada
Meu pai se sentiu afoito
De taipa era a casinha
Humilde bem simplesinha
Más com fartura e bonança
Ele vivia contente
Está é tudo diferente
De quando eu era criança.
Com a vinda do herdeiro
Os meus pais se alegraram
Bem ligeiro batizaram
O seu filhote primeiro
Foi na vila do Ebrom
Das aves ouvindo o som
Tomado por esperança
Toma nos braços o inocente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Agora filho de Deus
Na igreja batizado
Por Francisco nominado
Primeiro dos filhos seus
Registrado em Trussu
O comedor de angu
Em sua idade avança
Criado na terra quente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Francisco Erivaldo Pereira
Este foi o nome meu
Que com orgulho me deu
Pra ter pela vida inteira
Julio Aires o cantador
É meu pai, meu genitor
Me criou com confiança
Provei ser inteligente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Maria de Lourdes Pereira
A minha santa mãezinha
Cuidou bem da criancinha
De forma heroica e ordeira
Sem deixar nada faltar
Cuidou de me ensinar
Viver na perseverança
Crente em Deus onipotente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Meu irmão Arlindo Alencar
No ano cinquenta nasceu
Lúcia nasceu e morreu
Aos nove meses chegar
Eunice em cinquenta e dois
Manoel veio depois
Participar da festança
Ao nascer deixou a gente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Neviwton veio em seguida
Em sessenta a Espedita
Em sessenta e um a Rita
Em seguida Aparecida
Não esquecendo Fatinha
E a caçula Corrinha
De mamãe última herdança
Fecha o círculo vigente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Com cinco anos de idade
Meu pai me levou pra roça
Pequena mas era nossa
Aquela propriedade
Nela aprendi trabalhar
E do trabalho gostar
Com prazer e esperança
Na chuva e sol ardente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Quando em minha meninice
Brincava maneiro-pau
Pião e cavalo de pau
Sem ódio nem canalhice
Ciranda e casamento
Em corrida de jumento
Sem revide, sem cobrança
De bila na terra quente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Passa passa passará
O dia todo corria
E com prazer eu comia
Frutinhas do camará
Brincava de passa anel
Comia farinha com mel
Até encher minha pança
Desafiava serpente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Jogava bola no terreiro
De couro, seringa e meia
Pegava quedas na areia
Me sujava no lameiro
Eu passeava na selva
E dormia sobre a relva
Com sutileza e pujança
Eu me sentia valente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Pegava cabra com laço
Dava água aos animais
Corria nos matagais
Não conhecia cansaço
Botava água em casa
Assava milho na brasa
Entregava vizinhança
Sem me mostrar descontente
Está tudo diferente
De Quando eu era criança.
Botava o gado no curral
Separava os bezerros
Quantas vezes fiz aterros
Sem nunca me sentir mal
Botava ovelhas no
chiqueiro
Me montava no carneiro
Sonhava na esperança
De crescer rapidamente.
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Brincava de pega-pega
Do trisca e de peteca
Brincava com perereca
De rodas e Cobra cega
Eu gostava de aboiar
Tomar banho e nadar
Em mim tinha confiança
Nadar em água corrente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Botava as cabras no
chiqueiro
Chiqueirava os cabritos
Também cantava benditos
Botava pintos no poleiro
Matava as varejeiras
Também curava as bicheiras
Más nunca gostei de dança
Fui menino inteligente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Eu roçava o algodão
Brocava em derrubada
Fazia roço de estrada
E fazia plantação
Cerca eu fazia também
Pilava arroz e xerém
E tudo era festança
Fui um menino descente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Moía milho pra pão
Pra farofa e angu
Caçava abelha enxu
Colhia milho e feijão
Jeremum e melancia
Gostava de cantoria
São Gonçalo, boa dança
Saudade meu peito sente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Eu caçava enxuí
Maribondo e capuxu
Passarinhos e tatu
Cafinfim e mondori
Italiana, cupira
Jati, teú, jandaira
Sem desordem sem lambança
Gostava fazer repente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Sempre fui cara sincero
Nunca gostei de mentira
Mentira me dava ira
A mentira não tolero
Amo a sinceridade
Sou defensor da verdade
Para viver a mudança
Sem ser inconveniente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Inda em minha meninice
Levei um coice na testa
Culpa minha, sem contesta
Pela minha criancice
O cavalo eu cipoei
Entre as pernas acertei
Ele sem pedir fiança
Me acertou de repente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Um dia sem esperar
Senti uma dor no lado
Eu fiquei desesperado
Com intenção me curar
Com folhas de jerimum
Bem quente e um a um
Botavam na minha pança
Por dias fiquei doente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Brincava fazer cercado
E de cavalo de pau
No mato ou no quintal
Ossos e búzios eram gado
E arapuca fabricava
No juazeiro trepava
Eu tinha uma vida mansa
Tudo se foi de repente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Eu andava pela mata
De pés descalços no chão
Era uma diversão
Ver a lua cor de prata
Estrelas no céu brilhar
A Mãe-da-lua cantar
A distância a vista
alcança
Aquela serra imponente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Tinha alegria em ver
A passagem do cometa
Desfilar da borboleta
O meteórito correr
Me balançar numa rede
Andar sobre a parede
Sem dinheiro e sem
poupança
Más eu vivia contente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Brincava de mergulhar
De jogar pedra na água
Ver o rio onde deságua
Gostava n’água pular
Me banhar na cachoeira
Brincar de pular fogueira
Com estilo e ordenança
O São João festa descente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Comia feijão com pão
Angu com carne assada
Rapadura com coalhada
Farofa feito capitão
Baião de dois, mungunzá
Pipoca feito fubá
Até encher minha pança
Tinha cuscús com chá
quente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Buchada e sarapaté
Canjica, angu e paçoca
Pamonha, queijo e pipoca
E farinha com café
Carne assada na brasa
Milho cozido arrasa
Tapioca enchia a pança
Tomava escaldado quente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Tinha doce de amendoim
E açúcar com farinha
Chouriço, peixe e sardinha
Espécie de gergelim
Papa de goma e gomoso
Pirão, beiju que gostoso
Disto somente lembrança
Eu guardo na minha mente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Tinha boiada de gado
Tinha aboio do vaqueiro
Tinha o galo no poleiro
E o plantio no roçado
Tinha história de Trancoso
Vaqueiro aboiava saudoso
Hoje só resta a lembrança
Para contar no presente
Está tudo diferente
De quando eu era criança.
Francisco Erivaldo Pereira
Alencar