Autor: Erivaldo Alencar.
Letra: 17 06 2022 e
música:
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão
Lá cresci na esperança
Tive boa formação
Eu nunca que esqueci
Os bons tempos que vivi
Lá no meu velho rincção
Copm amor e na bonança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Era de taipa a casinha
Onde nasci me criei
Humilde e simplesinha
Nela bom tempo passei
Virada para o nascente
Os fundos para o poente
As margens do estradão
Mas cheia de esperança
Ainda tenho lembrança
Das coisa do meu sertão.
A casa era formada
Por uma sala na frente
Com a porta da entrada
E a janela no nascente
Com a sala de jantar
Como se pode notar
Era tijolada o chão
Janela dava segurança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Tinha uma grande cosinha
Com porta para o poente
Ao sul uma janela tinha
Ligada ao quarto da frente
Um quarto junto a cosnha
Pequena janela tinha
Pra extinguir a escuridão
Vivíamos em festança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
O quarto onde nasci
Com porta para cosinha
Janela pro oitão eu vi
Mas um outro quarto tinha
Que ficava lá na frente
Um alpendre no nascente
Completava a mansão
Que nos dava segurança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Na frente um grande
terreiro
Lá jogávamos futebol
Tinha um grande juazeiro
Que nos livramos do sol
Nos seus galhos nós subia
Seus frutos a gente colhia
E fazia a degustação
Que bons tempos de criança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Tinha um pé de cajarana
Que tinha a minha idade
Pasasámos a semana
Curtindo a felicidade
Tinha um outro terreiro
Outro pé de juazeiro
E um enorme poleirão
Galinhas faziam festança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Aquela casa singela
As margens do estradão
Saudades eu sinto dela
Faz doer meu coração
Também tinha dois
chiqueiros
Para as cabras e carneiros
Bem ao lado no oitão
Com leite eu enchia a
pança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Chiqueirava os cabritos
Botava mochila e boqueira
Naqueles bichos bonitos
Fazia cura da bicheira
Sem tempo pra descansar
Os porcos pra engordar
Botava no chiqueirão
Matava-os em festança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Eu lembro o curral do gado
Lá no final do terreiro
No centro um tronco
enfincado
Saudoso aboio do vaqueiro
As vacas eu disleitava
Leite mogido eu tomava
Com Arlindo meu irmão
Vaquejava sem lambança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Eu ainda estou lembrado
O cachorro de estimação
Que foi mui bem educado
Luck, o seu nome então
Dormia junto com o gado
Que foi morto degolado
No roço do estradão
Sem puder fazer vingança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Ainda lembros as estradas
Quando criança passei
Das noites enluaradas
Veredas onde trilhei
A primeira namorada
A minha prima amada
Também lembro o bouqueirão
Do chiquerador de trança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Com cinco anos de idade
Eu aprendi trabalhar
Com onze fiz a vontade
Fui pra escola estudar
Em quatro meses somente
Aprendi o suficiente
Ler e escrever então
Com esforço e
perseverançao
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Quatro foram os
professores
O meu pai foi o primeiro
Com estes educadores
Eu aprendi a ler ligeiro
Carta de ABC e cartilha
Eu jamais perdi a trilha
E o primeiro livro então
Taboada com nuança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Ainda estou lembrado
Do banho de cachoeira
Da foice e do machado
Enxadeque e roçadeira
Da chibanca e da enxada
Da picareta quebrada
Da perneira e do gibão
E da boa vinzinhança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Lembro o açude e a
barragem
Do riacho inundando
Da estrada de rodagem
E do açude sangrando
Do roço da capoeira
Do tiritá da biqueira
Da chuva molhando o chão
Da colheita em bonança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Das caçadas de tatu
De viado e de rolinha
Dos peritos e peru
Ganso, pato e galinha
Do jacu e do capote
Da água fria do pote
Baião de dois e pirão
Do que é bom não se cansa
Aninda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Lembro o ponche de cajá
Carne frita do teú
Goiaba e maracujá
E do pé de mulungu
Das flores da catingueira
Do sítio da bananeira
Pinha, laranja e limão
Mesmo com tanta mudança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Inda lembro do moinho
A gente moendo o milho
Mamãe falando filhinho
Cuidado com o porvilho
Que é para fazer angu
Guarde bem o cherém tu
Não deixe cair no chão
Lá era tudo festança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Lembro o arroz de chapada
Da pamanoha e do chorice
Leite cozido e qualhada
Bons tempos de menenice
O gostoso mel de cana
Doce feito da banana
E o saboroso capitão
Para nós encher a pança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Eu jamais vou esquecer
Do queijo com rapadura
Vale apenas rever
O toicim feito fritura
Jeremum e melancia
Chapéu de couro, iguaria
Farofa de carne com pão
Com melão encia a pança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Há e o leite com pão
E o mungunzá com fava
Com toicim torrado então
As surras que mamãe me
dava
Cangica e angu melado
Milho cozido e assado
Cajarana e o mamão
Eu comia sem lambança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Andar montado em cavalo
Campear gado no mato
Ouvir o cantar do galo
Bater da colher no prato
Tamarindo e trapiá
Macauba e fubá
Pipoca, cajá, melão
Fogão a lenha e balança
Anda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Inda hoje lembrado estou
Da dança de São Gonçalo
Elogiar aqui eu vou
O amançador de cavalo
A brincadeira de roda
O passa anel era moda
Em toda aquela região
Festa de forró com dança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Brincava de casamento
Contava historia de
Trancoso
Botava água no jumento
Brincar do trisca era
gostoso
Pegar parelha e nadar
Rios cheios atravessar
Jogar peteca e pião
Enquanto o tempo avança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Eu lembro a cantoria
Da fogueira de São João
Asa-branca que alegria
E a desbulha de feijão
Lembro a quebra do milho
A caçada do novilho
Na cata do algodão
Cabra fazendo lambança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Lembro quando brocava
Da tiração da madeira
Quando a roça acerava
Como se fosse brincadeira
Lembro do fogo de broga
Encendiários em toca
Fumaçava a amplidão
Povo gritava em festança
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu ertão.
Quanta saudade me dar
Da minha vida no passado
Até choro em lembrar
Do pouco que tou lembrado
Por enquanto pararei
Depois continuarei
Em outra ocasião
A minha mente não cansa
Ainda tenho lembrança
Das coisas do meu sertão.
Francisco Erivaldo Pereira
Alencar