terça-feira, 9 de maio de 2023

3.128 - RAFAEL E DIMABEL.

 

AUTOR: Erivaldo Alencar.

 

Letra; 08 05 2023 e música:

 

 

Havia um fazendeiro

No interior do Nordeste

Região localizada

Entre o Norte e o Sudeste

Próximo da África entre

Atlântico e Centro Oeste.

 

Este fazendeiro era

O mais rico da região

Dono de gado e escravos

E metido a valentão

Felisberto é seu nome

Conhecido por Barão.

 

Dono de quinze fazendas

Próprias pra criação

Ovelhas, cabras e porcos

Ele tinha de montão

Galinha, peru, capote

Ganso, pato e carão.

 

Muita criação de gado

Muitas casas na cidade

De uma rede de bancos

Loja de variedade

Duas minas e carruagens

Um homem sem piedade.

 

Dono de muitos cavalos

De campeio e montaria

Burros e jumentos de cargas

O chefão da freguesia

A sua ordem era lei

De nada ele temia.

 

O Barão era perverso

Um homem sem coração

Dono de grande arsenal

Maior de toda nação

Um ateu inveterado

Não cria na salvação.

 

Achava-se o próprio deus

Homem de grande poder

Até mesmo o governo

Tinha de lhe obedecer

Ai daquele que ousasse

Em lhe desobedecer.

 

Veio lá de Portugal

Por ser ele um desertor

Ele fugiu pra o Brasil

Aportou em Salvador

Partiu pra o desconhecido

Com destino ao interior.

 

No interior do nordeste

Uma fazenda comprou

Construiu um casarão

Com uma índia se juntou

De nome Panacabi

Dezoito filhos criou.

 

Era um monstro sem escrúpulos

Metido a conquistador

Estuprava as crianças

Nulheres de morador

Não respeitava ninguém

Causava medo e terror.

 

Dos dezoito filhos dele

Cinco eram femeninas

Todas muito educadas

Eram bonitas meninas

Ai de quem se aproximasse

Das suas cinco boninas.

 

A mais velha Carmelita

A segunda Isabel

A terceira Mariquinha

A quarta era Raquel

A mais bonita das cinco

Chamava-se Dimabel.

 

Os treze filhos do Barão

O mais velho era João

Henrique foi o segundo

Pedro, Joab e Sansão

Malaquias, Eleutério,

Juarêz e Jamelão.

 

Tibúrcio e Jeremias

Judas e Benedito

Benedito o caçula

Mais elegante e bonito

O mais amado e mais sábio

Não gostava de atrito.

 

Sua esposa Panacabi

Uma índia cearense

Da tribo dos tabajaras

Da região ipuense

Amiga de toda gente

Que ao nordeste pertece.

 

 

A Fazenda Pedra Azul

No Estado do Maranhão

Era a maior fazenda

Que possuia o Barão

Lugar onde residia

E causava assombração.

 

Tinha ciúmes das filhas

Não cansava de avisar

Nenhuma de minhas filhas

Não adianta pensar

Ter amizades com pobres

Com pobretão se casar.

 

Principalmente a caçula

A tratava com dureza

Não se atreva Dimabel

Querer rapaz da pobreza

Só se casará  um dia

Com um rapaz da nobreza.

 

Ai daquele pobretão

Que de ti se aproximar

Mandarei o acorrentá-lo

E o madarei castrar

O botarei na fogueira

E vivo mandarei queimar.

 

As quatro filhas mais velhas

Casaram-se muito bem

Com rapazes muito ricos

E foram morar além

E os treze filhos homens

Casaram-se bem também.

 

Dimabel vivia presa

Pela sua rebeldia

Os pretendentes que o pai

Para Dimabel trazia

Nenhum fazia seu gosto

E espragueijando dizia.

 

Eu só me caso um dia

Com o rapaz que eu gostar

Não quero saber de rico

Deixe que sei procurar

Com rapaz de sua escolha

Eu jamais vou me casar.

 

Ou eu caso com quem quero

Ou não caso com ninguém

Nenhum dos que me arranja

Não servem, nem me convém,

Quero um marido pra mim

Por todo o sempre amém.

 

 

A vida é minha meu pai

O senhor concorde ou não

Não vou casar com um cara

Pra lhe dar satisfação

Pode achar bom ou ruim

Sou dona do meu coração.

 

Não se atreva Dimabel

Há me desobecer

Sei que você tem juizo

Más se isto acontecer

Dou uma surra de chicote

Depois lhe mando prender.

 

Não é com ignorância

Que o senhor vai me domar

Eu não vou fazer seu gosto

Busque se conscientizar

Só casarei com rapaz

De quem eu muito gostar.

 

Virou as costas e saiu

Dizendo eu vou sair

Não lhe direi onde vou

E nem tente me seguir

Vou fazer o que eu quero

E não tente me impidir.

 

O velho ficou bufando

Diz: não posso acreditar

Esta moleca atrevida

Não vai me derrespeitar

Viro o mundo pelo averso

Se com pobre se casar.

 

Dimabel foi pra cidade

Dizendo hoje é meu dia

Não vou ficar pra donzela

Vou casar a revelia

Se não encontrar aqui

Busco noutra freguesia.

 

Entrou em uma pensão

Numa cadeira sentou

Pediu um lance a gosto

Quando um moço ali chegou

Para merendar com ela

Ao jovem convidou.

 

O moço muito acanhado

Respondeu-lhe obrigado

Ela lhe diz vem meu jovem

Não se faça de acanhado

Venha merendar comigo

E sente-se ao meu lado.

 

 

O rapaz sentou com ela

Um tanto quanto sem jeito

Dimabel olhou pra ele

E lhe diz tu és perfeito

Você é meu escolhido

Pra mim tu não tens defeito.

 

Ela diz para o rapaz

Eu me chamo Dimabel

Diga-me como se chama

Ele diz sou Rafael

Sou um pobre potiguar

Das bandas de São Miguel.

 

Fixando os olhos no moço

Começou a lhe falar

Sou solteira e bonita

A mais rica deste lugar

Responda-me com franqueza

Quer comigo se casar?

 

Rafael lhe respondeu

Eu sou um pobre lascado

Eu sai da minha terra

Aqui sou recemchegado

Não tenho nada na vida

E estou desempregado.

 

Ela diz não é problema

Gostei muito de você

Pobreza não é defeito

Também não vejo o porquê

De me recusar assim

Está querendo o quê.

 

Um jovem que ali estava

Começou a replicar

Não entre nessa meu jovem

Se não quer se encrencar

O pai dela não aceita

Ela com pobre casar.

 

O pai dela é perverso

Um homem sem coração

Se você ficar com ela

Vai arranjar confuzão

Afaste-se quanto é tempo

Dos capangas do Barão.

 

Ele baixou a cxabeça

Sem saber o que dizer

Ela lhe diz Rafael

O que tu vais resolver

Tô pra o que der e vier

Más jamais vou te perder.

 

 

Vamos levante a cabeça

Enfrente o meu pai Barão

Você não gostou de mim?

Não sirvo pra você então

Juro-te fidelidade

Aceite o meu coração.

 

O meu pai é violento

Isto não vou te negar

Que jamais vai permitir

De com pobre me casar

Más jamais vai impedir

De com pobre me juntar.

 

Rafael ficou vermelho

Não tenho medo de nada

Para casar com você

Toparei qualquer parada

Vou enfrentar o seu pai

Com toda sua cabrarada.

 

Muito bem diz Dimabel

Tu podes contar comigo

Eu preciso me casar

Viver sem ti não consigo

O meu pai queira ou não

Só caso se for contigo.

 

Vou te levar lá em casa

Pois é chagado o momento

Gosto de homem valente

Prove seu atreveento

Enfrente o velho meu pai

E me peça em casamento.

 

Rafael diz vou agora

Falar com teu pai Barão

Vou pedir ao seu pai em

Casamento a sua mão

Se ele não consentir

Está feito a confusão.

 

Dali sairam os dois

Para a casa do pai dela

Planejando o futuro

Tanto pra ele e pra ela

Encontraram o Barão

Deburçado na janela.

 

O velho olhou pra os dois

Diz-me quem tu és rapaz

Eu me chamo Rafael

E vim em missão de paz

Trazido por minha filha?

Não coisa que se faz.

Diz o velho o que tu queres

Falar de tão importante

Fale logo tenho pressa

Más não seja arrogante

Faça favor, não gagueje

Despresível viajante.

 

Rafael diz estar bem

Pois é chegado o momento

Eu vim pedir ao senhor

Dimabel em casamento

Não venha com lerolero

Quero seu consentimento.

 

O Barão diz nem em sonho

Vou lhe dizer o porquê

Não aceito o casamento

Pois você não tem com que

Minha filha não se casa

Com pobre igual a você.

 

Rafael diz eu sou pobre

Más sou homem de respeito

Me caso com Dimabel

O senhor não vai dar jeito

Dimabel e eu formamos

Um casalzinho perfeito.

 

Nisto o velho levantou-se

Não estar no seu querer

Você só casa com ela

Só depois que eu perecer

Não suporto desaforo

Fuja se não quer morrer.

 

Já gritou pra cabroeira

Peguem logo este safado

Cortem sua língua atrevida

Depois de tê-lo castrado

Pendurem-o lá na forca

Para morrer enforcado.

 

Rafael pulou de costas

Já com uma faca na mão

Deu um grito estarrecedor

Vem enfrentar-me Barão

Por Dimabel mato e morro

Comigo não há perdão.

 

Dimabel amarra a saia

Com um facão amolado

Com ódio entrou na briga

Ao lado do namorado

Enfrentando os cangaceiros

Meio ao sangue derramado.

 

 

 

Rafael gritou pros cabras

Com vocês vou divertir

Seus bonecos do Barão

Mortos no chão vão cair

Pra não brigar dou dez pulos

Dou cem para não sair.

 

Com duas horas de briga

Cem mortos tinha no chão

O restante foi embora

Naquele momento então

Rafael partiu pra cima

E aberturou o Barão.

 

Dimabel disse meu bem

Provastes que é valentão

Largue meu pai e descanse

Deixe comigo o Barão

Pai o senhor foi vencido

Dá ou não a permissão?

 

Barão tremendo de medo

Sem levantar do assento

Minha filha não me mate

Dou-lhe  o consentimento

Cuide dos preparativos

Para o seu casamento.

 

Eu vou convidar o povo

Para se fazer presente

Farei uma grande festa

Só pra lhe deichar contente

A fazenda Pedra Azul  

Eu lhe darei de presente.

 

Com menos de uma semana

Já se deu o casamento

Foram três dias de festas

Com intenso movimento

O velho os abençoou

Logo após o sacramento.

 

O Barão diz Rafael

Tu serás meu genro amado

Cuide bem da minha filha

Da fazenda e do gado

Mesmo contra a vontade

Me sinto velho e cansado.

 

Foram pra lua de mel

Na cidade Salvador

Longe de tudo e de todos

Com alegria e fervor

Em um hotel cinco estrelas

Fazendo juras de amor

 

 

Depois de duas semanas

Retornaram pra fazenda

Rafael muito feliz

Ao lado de sua prenda

Ela sonhando falava

Este  veio de encomenda.

 

Com pouco tempo depois

Panacabi faleceu

O Barão ficou cordeiro

Primeiro neto nasceu

Com dois anos o Barão

Bateu as botas e morreu.

 

Anos foram se passando

E muitos filhos nasceram

Rafael e Dimabel

Muito felizes viveram

Cuidando de todos bens

Que do Barão receberam.

 

A vida deste casal

Foi sempre lua de mel

Ele um esposo leal

E ela esposa fiel

Essa é a história de

Rafael e Dimabel.

 

Francisco Erivaldo Pereira Alencar.

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