domingo, 8 de novembro de 2015

1.904 - A SECA DE QUINZE

Autor: Erivaldo Alencar.

Letra: 08 11 2015 e música:


Ao Senhor Deus soberano
Rogo a divina bênção
Ao seu filho Jesus cristo
Saber e inspiração
Para da seca de quinze
Fazer a retratação.

Do Rio Grande do Norte
Pero Coelho vem pra cá
Mil seiscentos e três
Colonizar o Ceará
Mas deparou com a seca
Teve de voltar pra lá.

Daí pra cá muitas secas
Aqui tem acontecido
Por causa das grandes secas
O cearense tem sofrido
No polígono da seca
O Ceará foi incluído.

Deixo as outras de lado
De quinze que eu vou falar
Pois neste dois mil e quinze
Cem anos vai completar
Que aconteceu esta seca
Que agora vou retratar.

Mil novecentos e treze
A seca se iniciou
No nordeste brasileiro
A estiagem prolongou
Foram três anos secas
Que o Nordeste arrazou.

Mil novecentos e quatorze
A seca permaneceu
No interior do Nordeste
A população sofreu
É uma das grandes secas
Que o mundo conheceu

Mas foi ano de quinze
Que alcançou o apogeu
Foram três anos de secas
Que o nordeste abateu
Foi aqui no Ceará

Que o auge aconteceu

Pois em quinze não choveu
No Ceará nosso estado
Rios e riachos secaram
Com o solo esturricado
Sem comida e sem bebida
Deixa o povo assustado.

Sem ter pastagem nem água
Sem ter a quem recorrer
E com o rebanho morrendo
Levava o povo crer
Que aqui no Ceará
Nunca mais ia chover.

Com fome e sede os bichos
Capengavam pelo mato
Só com o couro e os ossos
Sem qualquer tipo de trato
Da seca não escapava
Gado nem cachorro e gato.

Pra todo canto que olhava
Tinha uma vaca no chão
Com os bezerros berrando
Sem ter alimentação.
Somente um sol causticante
Queimando todo sertão.

A água também não tinha
Uma sequidão geral
Crianças com fome e sede
Mortandade sem igual
Só viram uma solução
Migrar para a capital.

Depois de tudo perdido
O povo com necessidade
Saíram dos seus lugares
Do sertão e da cidade
Com destino a capital
Enfrentando hostilidade.

Com as estradas lotadas
De famintos do sertão
Os mais fortes iam enfrente
E os mais fracos então
Sem resistir fome e sede
Tombavam mortos no chão.

Na grande seca os rebanhos
Quase foram dizimados
Animais de estimação
Pelos donos abandonados
Mortos de fome e sede
Aos montes eram encontrados.

Quando os famintos entravam
Nas cidades e capital
Em busca de alimento
O alarme foi geral
A elite se escondeu
E o governo passou mal.

Com a chegada dos famintos
Vem o crime e epidemia
Assassinatos, suicídios,
Loucuras, saques todo dia,
Devido a fome foi visto
Casos de antropofagia.

Tentando se precaver
Governo toma decisão
Criando currais humanos
Com nome concentração
Pra evitar que famintos
Tentassem por invasão.

Foi Liberato Barroso
Presidente do estado
Que construiu estes campos
Pra abrigar flagelados
Em cortiços sem higiene
E muito mal alimentado

O objetivo dos campos
Era evitar que a cabroeira
Chegassem a Fortaleza
Trazendo “o caos, a nojeira
A miséria, a moléstia
O flagelo e a sujeira,

Campos de concentração
Por setores separados
Usando arames farpados
Os currais foram cercados
E para evitar as fugas
Por soldados vigiados.

No Alagadiço primeiro
Campo de Concentração
Ao Oeste de Fortaleza
Teve a denominação
De os “Currais do Governo”
Pra evitar invasão.

Mais outros dois campos foram
Construídos no Ceará
Um no Juazeiro do Norte
E o outro em Quixadá
Com a intenção de segurar
Os flagelados por cá.

Mais de oito mil pessoas
Somente em Fortaleza
Passaram por tais currais
Levando horror e tristeza
Confinados para não
Contaminar a nobreza.

Os Campos de Concentrações
Lugares de alojamentos
Dos flagelados da seca
Vindos a todos os momentos
Onde água e comida
Passavam por racionamentos.

Aos miseráveis da seca
Implantou a segregação
O flagelo em massa chegou
Naquela ocasião
Cento e cinquenta por dia
Morre na concentração.

Só a varíola matou
Centenas de esfarrapados
Em todo Nordeste morreram
Mais de cem mil flagelados
Duzentos cinquenta mil
Migraram pra outros estados.

Com tantas mortes causadas
No Campo de concentração
Sem higiene o mau cheiro
Causou preocupação
Mortos enterrados em valas
Piorava a situação.

No campo do Alagadiço
Prevalece o preconceito
Flagelados cearenses
Na Amazônia foi aceito
Em dezoito de dezembro
Este Campo foi desfeito.

Exatamente há cem anos
Esta seca aconteceu
No Nordeste brasileiro
O rebanho pereceu
Dos estados nordestinos
Ceará foi quem mais sofreu.

No ano dois mil e quinze
De novo a seca voltou
Os mananciais secaram
E a terra não molhou
Rebanho com fome e sede
O mato nem enfolhou.

Francisco Erivaldo Pereira Alencar.

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