terça-feira, 14 de janeiro de 2014

1.700 - BRIGA DE ROÇADEIRA

Autor; Erivaldo Alencar.

Letra; 14 01 2014 e música;


Foi em uma quinta feira
Em uma manhã chuvosa
Quando fui pegar o leite
Alguém me diz uma prosa
De um fato ocorrido
Que vou descrever em glosa.

Este fato aconteceu
Na Paraíba o lugar
Uma briga de roçadeiras
Tristonho eu vou narrar
Há muitos anos passados
Eu vou em versos contar.

Foi no dia de São Bento
Em uma segunda feira
No roço de algodão
No meio da capoeira
Bem na hora do almoço
Houve esta desgraceira.

O fazendeiro João Rico
Morador deste lugar
Disse pra sua esposa
Um adjunto vou botar
Na próxima segunda feira
O roço vou começar.

A sua esposa lhe disse
Marido preste atenção
Dizem que segunda feira
Não é dia de bênção
Pra iniciar serviços
Não é boa ocasião.

Eu não acredito nisso
Respondeu para mulher
Segunda feira é um dia
Como outro dia qualquer
Vou começar na segunda
Seja o que Deus quiser.

Ele reuniu seis homens
Muito bons de roçadeira
Depois de tomar o lanche
Seguiram pra capoeira
Para começar o roço
Naquela segunda feira.

Com a roçadeira no ombro
Sem nada imaginar
A cabaça cheia d’água
Começaram a marchar
Parecia um batalhão
Com muita pressa chegar.

Na roça ele se lembra
Que da mulher ouviu falar
Disse pros trabalhadores
O povo deste lugar
Segunda feira não é
Bom serviço começar.

Os homens lhe responderam
Não cremos em maldição
Vamos começar o roço
Esqueça a tradição
Nada vai acontecer
Isto é só superstição.

João disse estão certos
Não vou me preocupar
Com a bênção do Criador
Vamos o roço começar
Quero ver quem é o bom
Em minha frente chegar.

Já fez o sinal da cruz
Manobrou a roçadeira
Deu um grito insultante
Foi na primeira carreira
Desta forma começou
O roço da capoeira.

Até as dez da manhã
Tudo transcorreu normal
Quando uma cobra surgiu
No meio do bomburral
Todos homens se juntaram
Pra matar o animal

Mas, logo depois do crime
Voltaram a trabalhar
Com a chegada do almoço
Pararam pra almoçar
Sem que se imaginasse
O mal que tava pra chegar.

Após saciar a fome
Todos sentados no chão
Despiram-se da camisa
Por causa do calorão
Mas havia entre eles
Um metido a brincalhão

O rapaz de nome augusto
Foi lá onde a cobra estava
Pegando-a pela cauda
Em sua mão enrolava
Dirigiu-se ao Xavier
Com a cobra lhe açoitava.

Embora estando morta
A cobra era venenosa
Com dentes fora da boca
Parecia está raivosa
Ao acertar Xavier
Acabou o que era prosa.

Mas ao apanhar de cobra
Numa brincadeira amiga
Pela cobra Xavier
Foi ferido na barriga
Esta simples brincadeira
Gerou uma grande briga.

Com a barriga ferida
Pelos dentes da serpente
Uma forte hemorragia
Xavier sente de repente
Sua vista escureceu
E apagou sua mente.

Antes de ser socorrido
O Xavier faleceu
O seu irmão Herculano
Vendo o que aconteceu
Pega a roçadeira e diz
Quem mata você sou eu.

Pedro irmão de Augusto
Também pega a roçadeira
Nisto começou a briga
No meio da capoeira
João Rico gritava parem
Com a briga cabroeira.

Os outros trabalhadores
Entraram na confusão
Sem saber o que fazer
Pedia o seu João
Pelo amor de Deus vocês
Parem com a rebelião.

De longe ouvia gritos
E uma grande tinideira
Faiscamento de fogo
Saindo da roçadeira
Labaredas e fumaças
Cobriam a capoeira.

João Rico saiu correndo
Tentando buscar socorro
Em alta velocidade
Ele sobe e desce morro
Ele dizia consigo
Tanto tempo que corro.

João Rico chegou à vila
Gritando desesperado
Vamos apartar a briga
Que há La no meu roçado
Estão todos se matando
Vão que eu estou cansado.

Mas quando chegaram lá
A briga tava terminando
Somente dois trabalhadores
Ainda estavam brigando
Com os seus corpos cortados
E o sangue derramando.

Os dois foram separados
Ambos sentaram no chão
Estavam ensangüentados
Que horrível situação
Cortados de roçadeiras
Não tiveram salvação.

Infelizmente os dois
Faleceram no local
Juntando aos outros quatro
Mortos pelo mesmo mal
Uma simples brincadeira
Teve um desfecho fatal.

Pois os seis trabalhadores
Em uma tarde Inglória
Morreram todos não sobrou
Nenhum pra contar vitória
Só seu João Rico ficou
Pra puder contar a história.

Daquele dia por diante
Nem sequer de brincadeira
João Rico quis começar
Serviços em segunda feira
Ele tomou por castigo
A briga de roçadeira.

Despeço-me com desculpas
Daquele que não gostou
Contei os fatos da forma
Que um amigo narrou
Se não condiz a verdade
Mentira de quem contou


Francisco Erivaldo Pereira Alencar.

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