Autor; Erivaldo Alencar.
Letra e música; 30 03 2008.
Dai-me licença leitor Pra uma história narrar
Dum cachorro vira lata
Que vive a vagar
E de um cão Pitbull
Adestrado pra matar.
O cachorro Vira Lata
Nascido lá no sertão
Ainda muito novinho
Batizado por Leão
Que cresceu em liberdade
Com pouca educação.
Certo dia seus donos
Foram morar na cidade
Ele foi abandonado
Sem pena nem piedade
Sem um lar e sem comida
Vivendo de caridade
O cachorro Vira Lata
Jamais se desesperou
Sem ter um destino certo
Pela estrada viajou
Cansado, com fome e sede.
Para descansar parou.
Ali mesmo adormeceu
E a noite ao despertar
Viu um clarão em frente
Cuidou em se levantar
Vou agora sem demora
Saber o que há por lá.
Enquanto ele andava
Cheiro estranho farejou
A poucos metros dali
Num grande lixão chegou
E viu tantos cães por lá
Que ele se assustou
Os cães se aproximaram
O convidaram pra chegar
Não tenha medo colega
Pode se aproximar
Escolha o que quiser
Para se alimentar.
Ele não perdeu mais tempo
E se alimentou bem
Próximo tinha um açude
Matou a sede também
Foi morar com os colegas Por toda vida amém.
Agora vamos falar
De um outro cidadão
De nome Cão Pitbull
Um temível valentão
Por sua ferocidade
É criado na prisão.
O Pitbull por sua vez
É um cão vindo de fora
Veio dum pais europeu
Mas aqui no Brasil mora
É um cão de classe nobre
Uma raça que aflora.
Certa vez o Vira Lata
Passando ali por perto
Vendo o Pitbull preso
Disse, tu sejas esperto.
Se é de eu viver preso
Prefiro livre no deserto
O Pitbull lhe respondeu
Você não sabe que fala
Sou o protetor da casa
Bicho nenhum não me cala
Sou o mais feroz cão do mundo
Não é você que me entala.
Deixe de lati besteiras
Senão saio da corrente
Deixo você em pedaços
Triturado com meus dentes
Se você quer um conselho
Sai logo da minha frente.
O Vira Lata lhe disse
Você ta muito nervoso
Pare pense um pouquinho
Não adianta ser raivoso
Que pena, Você ta preso
Inda diz ser corajoso.
Por mais valente que seja
Apanha de qualquer um Sou um vira lata livre
E não temo a nenhum
Na prisão tu não és nada
Pois você só tem zunzum.
Vira Lata vai embora
Não sabe que sou capaz
Estou ficando nervoso
Não ver a raiva que faz
Eu preciso descansar
Favor me deixar em paz.
Veja bem ó Pitbull
Toda minha liberdade
Você também pode ser livre
Largue de tanta maldade
Fuja da corrente e venha
Viver com felicidade.
Não sabes como é bom
Ser livre a vida inteira
Eu vou pra onde Eu quero
Bem longe desta sujeira.
Vivo em paz com amigos
Somos uma nação ordeira.
Entre nós não há violência
Há fartura e bonança
Nós somos todos amigos
Lá reina perseverança Somos um povo feliz Lá não há desconfiança
Nenhum de nós trabalhamos
Temos tudo a toda hora
Água e comida farta
Vamos macho não demora Solte-se desta corrente
E vamos comigo embora.
O Pitbull respondeu
Aqui eu sou bem tratado
Sou banhado toda hora
Muito bem alimentado
Há um médico pra mim
E sou por todos respeitado.
O Vira Lata lhe disse
Tenho de ti piedade
Lembre-se você ta preso
Longe da felicidade
Tu preferes viver preso
Que viver em liberdade?
Estou preso na corrente
Não posso sair daqui
Acostumei esta vida
Não há como eu fugir
Não saberei viver fora
O jeito é ficar aqui.
Deixe de ser tolo cara
Preste-me bem atenção
Quando seu dono deixar
Você fora da prisão Pule o muro pra fora
Ou então abra o portão
Ouça o que eu te digo
Quando fugir da prisão
Procure ser muito rápido
Não olhe pra trás irmão
Siga ao caminho do norte
Me procure no lixão
O Vira Lata foi embora
Acenando com a mão
E o Pitbull coitado
Triste em sua prisão
Eu vou procurar um jeito Pra sair desta maldição.
Num determinado dia
O seu dono descuidou
Deixou o portão aberto
E o da corrente soltou
Fugiu da casa do dono
E pra rua se mandou
Pois o Pitbull fujão
Saiu sem nenhum destino
Se vendo em liberdade
Com cara de assassino
De cão feroz e temido
Tornou-se um peregrino
Três dias já se passaram
Sem ele nada comer
Nem sequer a própria água
Encontrou para beber Pensando disse consigo
Desse jeito vou morrer.
Já no quinto dia ele
De fome cambaleando
Caçar ele não sabia
Com os pés estropiando
O movimento na rua Tava lhe incomodando.
Estava muito cansado
Quase sem poder andar
Já bem fora da cidade
Parou pra se orientar
Ele avistou um lixão
E foi correndo pra lá.
Quando chegou no lixão
Que viu toda cachorrada
Disse deve ser aqui
Onde mora o camarada
Onde eu vou encontrá-lo
No meio da lixarada
O Cão Pitbull sem jeito
Desta forma perguntou
O Vira Lata Leão
Onde estar indagou
Eu quero falar com ele
Para os cães murmurou
Os cães ao vê-lo ali
Ficaram muito assustados
Responderam ao Pitbull
Estar bem ali ao lado Espere-o vou chamá-lo.
Foi um cão desconfiado.
Disse o cão mensageiro
Pro Vira Lata Leão
Ali tem um Pitbull
Diz quer ver o cidadão
O Vira Lata foi rápido
Atender o co-irmão.
O Vira Lata Leão
Dele se aproximou
Que acontece amigo
Ao Pitbull indagou
E pra ele sua história
O Cão Pitbull contou.
Disse o Pitbull, veja.
Fiz como você mandou
O meu dono como sempre
Da corrente me soltou E o portão da saída
Esqueceu e não trancou
Aproveitei seu descuido
E fugi rapidamente
Corri sem direção certa
Como cão sem precedente
Quanto mais corria ouvia
O barulho da corrente
Já estar com cinco dias
Que eu já não como nada
Estou morrendo de sede
A garganta ressecada
Alimentação e água
Sirva-me meu camarada.
O Vira Lata lhe disse
Farei a apresentação
Disse pra seus companheiros
Este é meu amigão
Que não tenham medo dele
Vamos servir a refeição.
Os Vira Latas levaram
O Pitbull pro lixão
Aí tem muita carnice
Pode se servir então
Ali tem água pra beber
Depois de sua refeição.
O Cão Pitbull estava
De tal fome traspassado
Olhou no lixão e viu
Carnice pra todo lado
Agora ta como quero
Vou ser bem alimentado
Depois de se sentir farto
Água ele foi beber
Depois ele foi pra sombra
Descansar se refazer
Agora se vendo livre
Sem ter nada pra fazer
O Vira Lata Leão
Reuniu toda cachorrada
Diante do Pitbull
Disse veja amarada
Seja bem-vindo ao lixão
Com toda vira latada.
No meio dos Vira Latas
Deixou de ser valentão
Tornou-se amigo de todos
Botou paz no coração
Ao invés de cão feroz
Passou a ser brincalhão.
O Cão Pitbull ficou
Vários dias no lixão Começou sentir saudades
Lá da casa do patrão
Ao mesmo tempo revoltava-se Quando lembrava da prisão.
Dizia ele consigo
Viver aqui é moleza
Tem tudo que eu preciso
Fartura aqui é riqueza
Mas se sou feliz ou não
Isto não tenho certeza
Um dia se vendo triste
Sem saber o que fazer
Com saudade dos seus donos
Sem conseguir esquecer
Chamou o cão Vira Lata
Assim começou dizer.
Lá na casa dos meus donos
Eu era mui bem cuidado
Com as melhores rações
Eu era alimentado
Era mimado por eles
E por todos respeitado.
Todos os dias meus donos
Levava-me pra banhar
Com sabonete e shampoo
E meus cabelos pentear
E me levavam pra a clínica
Para eu me vacinar.
Quando eu adoecia
Mandava me medicar
Eu guardava sua casa
Não deixava ladrão entrar
Até uma cazinha tinha
Para nela eu morar
Aqui tem comida e água
Mas conforto não tem não
Levamos chuva e sol
Sem nenhuma proteção
Sujeito a todas doenças
Sem uma medicação
Não estou arrependido
Valeu pela experiência
São muito bons para mim
Digo-lhes com consciência
Desta vida de lixão
Registro minha desistência.
Agradeço a Vocês
Mas Eu preciso voltar
Lá pra casa dos meus donos
Não posso mais demorar
E todos Vocês amigos
Saudades Eu vou levar
Dali partiu o Pitbull
Com destino a cidade
Foi pra casa dos seus donos
Cheio de felicidade
Ao retornar não teve a
Mesma receptividade.
Ao chegar em sua casa Ele não foi recebido
Os seus donos de outrora
Da casa tinha saído
E os novos moradores
Sequer lhe deram ouvido.
Ele se desesperou
Tristonho se pois andar
Em todos pontos da cidade
Por seu dono procurar
Mas infelizmente ele
Não pode os encontrar
Buscou por toda cidade
Mas êxito não alcançou
Já cansado e faminto
Para descansar parou
Ali surgiu um menino
Que sem dó o apedrejou.
O Pitbull desconsolado
E com a mão machucada
Eu vou voltar pro lixão
Pra viver com a cachorrada
Pois lá eu terei de tudo
Jamais me faltará nada.
Mas quando ele saiu
Bem de longe avistou
Um pedacinho de carne
O mais depressa pegou
Sua fome era tanta
Ligeirinho devorou
Ao terminar de comer
A carne envenenada
Pitbull se sentiu mal
E caiu pela estrada
Sem nenhuma assistência
Sua vida foi ceifada
Assim acabou a vida
Dum Pitbull valentão
Que fugiu do lar dos donos
Por sua libertação
Uma liberdade que
Teve pouca duração.
Francisco Erivaldo Pereira Alencar
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